Neurolinguística & Sombra Junguiana
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Jornalista. Publicitário (Estácio). Pós-graduado em Psicologia Analítica (PUC/Rio). Leader Coach, Life Coach e Business Coach do IBC - Instituto Brasileiro de Coaching. Coautor do Livro - O Impacto do Coaching no Dia a Dia. Apresentador dos canais BusTV e TV Max. Colunista e Consultor da Catho. Colaborador da Revista Psique (Brasil, editora Escala). Autor e Palestrante do projeto social - Comunidade Profissional; Diretor do Instituto Lascani.
Artigo publicado na Revista Psique, edição 155, editora Escala, Brasil
Neurolinguística
A neurolinguística é um estudo da linguagem da mente/cérebro. Sua composição
gramatical une os termos - Neuro (neurologia) e - Linguística (linguagem). Tal
linguagem do cérebro se expressa através de nosso corpo e de nossas palavras.
Embora tanto a nossa fala quanto a nossa postura - e demais ações de nosso corpo
- sejam reflexos da linguagem de nossas sinapses neuronais, o corpo reage com
muito mais precisão do que as palavras aos nossos pensamentos. Isso ocorre
porque as palavras, na maioria das vezes, transpassam pelo "filtro"’ do ego.
Desta forma, temos a oportunidade, ainda que seja muito rapidamente, de
planejarmos o que vamos dizer. Com exceção, em momentos de muito stress, em que
podemos proferir palavras não desejadas de maneira impulsiva. Mas, de um modo
geral, sempre que possível racionalizamos o que vamos falar, sejam tais palavras
uma mentira ou uma verdade. Já o nosso corpo, por sua vez, reage de forma mais
espontânea aos nossos pensamentos.
Por exemplo, se bocejarmos durante uma reunião de negócios e um de nossos
receptores nos perguntar "está com sono"? Por questões de cerimónia, podemos
responder: "não".
Isso acontece porque raciocinamos o que vamos falar, antes de emitir uma
resposta. E, assim, filtramos e respondemos de acordo com nossa própria vontade
(ego).
Entretanto, de nada adianta nosso corpo expressar um determinado sinal e nossas
palavras emitirem outra expressão. Na comunicação humana, bem como na
neurotransmissão que ocorre em todos as relações, sempre prevalece a linguagem
corporal. Conforme o exemplo visto acima, não é suficiente bocejarmos e depois
declaramos que não estamos com sono. Nosso receptor não irá acreditar, pois o
corpo já revelou o que realmente estamos sentindo.
Nos estudos da neurolinguística, este fenômeno se chama Incongruência,
consistindo, justamente, em o nosso corpo dizer alguma coisa e nossa fala dizer
outra. Devemos sempre buscar a congruência entre nossa comunicação verbal e
corporal. Tão logo, bocejar e admitir estar com sono passa mais credibilidade
do que negar, visto que o corpo já revelou previamente o que estamos sentindo.
A congruência entre as linguagens verbal e corporal são fundamentais para o
fenômeno chamado Rapport (Francês: relacionamento, entusiasmo,
identificação, neurotransmissão).
O Rapport é parte muito importante dos estudos da neurolinguística. Em
todas as relações humanas acontece algum tipo de Rapport, positivo ou
negativo, que é a somatização dos sinais linguísticos neurotransmitidos pelo
corpo e pela fala durante um diálogo, entre duas ou mais pessoas. Prevalece, no
entanto, a linguagem do corpo em tais relações. Sendo assim, um bom Rapport
é fundamental para a construção de uma boa primeira impressão, bem como para um
bom marketing pessoal. No mercado de vendas, por exemplo, a congruência
corporal e verbal ocasionam em um bom Rapport entre as partes envolvidas
- fator essencial para se obter bons resultados, em curto prazo, e se ganhar
credibilidade de mercado, em longo prazo.
Na neurolinguística, a congruência é a harmonia entre nossa mente, nosso corpo e
nossa fala. Quando cumprimos bem com esta sintonia geramos um Rapport
positivo com nosso receptor. Já o contrário pode gerar um dos fatores do
fenômeno denominado como Sombra.
Sombra Junguiana
Carl Gustav Jung foi um dos maiores psicanalistas do mundo, muito consagrado e
reproduzido por outros autores até os tempos atuais. Suas obras deixaram um
legado que se ressignifica de geração em geração. No passado, Jung já foi
considerado um místico, uma linha alternativa de psicanálise. Na atualidade, é
reconhecido por cientistas, da Física Moderna, do mundo todo, por seus estudos
sobre arquétipos, sincronicidade e inconsciente coletivo. Seu trabalho
introduziu um novo modelo de psicologia, coletiva e transcendental. Mas, em
termos de psicologia individual, também realizou grandes trabalhos, expressos em
grandes livros tais como "Tipos Psicológicos" (Vozes), "O Desenvolvimento da
Personalidade" (Vozes), dente outras obras.
No campo da psicologia tradicional, um dos conceitos mais polémicos foi sua
descrição de um fenômeno que ele chamara de Sombra. Para Jung, todos nós temos
uma "sombra" em nossa personalidade que, na maioria das vezes, não é reconhecida
por nós mesmos, mas sim pelos outros, principalmente por aqueles com quem mais
convivemos. A priori, a Sombra é tudo o que reprimimos em nossa psique,
por se tratar de algum sentimento não admitido pelo ego, ou por alguma convenção
social em que estejamos inseridos. O ambiente em que nascemos, por exemplo, bem
como o lugar em que convivemos, nem sempre vão ao encontro de nossas vontades,
sonhos, ideais. E, em contrapartida, muitas vezes por imposições familiares,
sociais, religiosas, econômicas, temos que nos adequar a tais condições.
A Sombra é uma mistura de nossos complexos (influências externas) e, ao mesmo
tempo, pode se manifestar como um arquétipo (aspectos internos de nossa
personalidade, que independem de influências externas). Mas, justamente por não
ser, em sua maioria, percebida conscientemente por nós mesmos, e sim,
frequentemente, pelos outros de nosso convívio, se designa também, conforme os
estudos da neurolinguística, como uma incongruência. Uma pessoa que fala em tom
de voz muito alto, por exemplo, pode não perceber e nem admitir este traço de
sua personalidade, independentemente da causa que a fez se expressar sempre com
esta tonalidade. Outro exemplo é o de uma pessoa que ande muito rápido o tempo
todo, e que também não percebe e nem admite caminhar em tal velocidade. Mas, tal
comportamento é percebido por seus receptores, gerando assim uma incongruência
entre sua linguagem corporal e verbal. Em um contexto geral, tudo que é
percebido pelos outros e não percebido por nós está relacionado a algo que, em
algum momento de nossas vidas, reprimimos em nossa psique e, desta forma, se
tornará uma "Sombra" de nossa personalidade.
É possível conjugarmos muitos exemplos relacionados a incongruência humana, dos
estudos da neurolinguística, com o conceito de Sombra junguiana. Refletindo o
nosso corpo grande parte de nossa personalidade, este mesmo corpo revela,
naturalmente, a nossa Sombra. Mas, conforme vimos nos exemplos citados, o mesmo
fenômeno pode ser reconhecido, também, em nossas manifestações verbais.
Ainda no campo da Psicologia, há outros estudos que sintetizaram tanto os
aspectos da neurolinguística quanto os da Sombra junguiana, tal como o conceito
chamado "Janela de Johari", criado pelos pesquisadores Joseph Luft e Harry
Ingham, que aponta o fenômeno dos "4 Eus": o Eu Aberto, o Eu Cego, o Eu Secreto
e o Eu desconhecido.
Eu Aberto
Está relacionado ao nosso Eu social, do Ego, da Persona; é racional e
consciente. Demonstra, ao campo social, apenas uma parte do que somos.
Eu Secreto
Está relacionado ao nosso Eu pessoal, que somente quem convive no ambiente
íntimo/familiar consegue perceber, e ao qual as pessoas do convívio social não
têm acesso.
Eu Cego
É justamente o que mais pode revelar a nossa "Sombra", pois está relacionado
ao nosso Eu que não reconhecemos em nós mesmos, mas que, tanto as pessoas de
nosso ambiente social quanto as do nosso ambiente íntimo/ familiar, podem
perceber. Portanto, conforme vimos, em consonância, com o reflexo da Sombra de
Jung, o Eu cego é reprimido pelo nosso ego, e pode ser manifestar como um
complexo.
Eu Desconhecido
É bastante relacionado com os estudos junguianos pois, além de poder
manifestar-se em algum momento como uma Sombra, está relacionado com o nosso
Self, que é um de nossos arquétipos primordiais. O Self está em
nossa mente inconsciente, onde o ego não tem acesso. Por esta razão, no lugar de
um complexo, quando advinda dessa atmosfera psíquica, a sombra se manifesta como
um arquétipo. O Eu desconhecido (Self) é a atmosfera mais profunda e mais
sábia de nossa mente, tanto desconhecida por nós, quanto por quem convive em
todos os nossos ambientes. Somente o arquétipo da Sombra pode, repentinamente,
emergir parte desta atmosfera psíquica aos nossos receptores e a nós mesmos.
Portanto, todos os "4 Eus" estão diretamente relacionados com os estudos da
Neurolinguística e com os da Sombra junguiana. Tais conhecimentos são, em
verdade, ferramentas de autoconhecimento, ou do fenômeno que Jung chamou de
"Processo de Individuação", que é a busca de transformamos nossas incongruências
em congruência e, sobretudo, de tornarmos nosso inconsciente cada vez mais
consciente, nosso ego cada vez mais em Self, nossos complexos cada vez
mais em arquétipos e, por fim, nossa Sombra cada vez mais em luz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
JUNG, CARL G. O Desenvolvimento da Personalidade, Vozes, 2002.
JUNG, CARL G. Tipos Psicológicos, Vozes, 2002.
JUNG, CARL G. O Eu e o incosciente, Vozes, 2002.
FRITZEN, SILVINO JOSÉ, Janela de Johari, Vozes, 2013