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Crescer para Ser: a proposta do projeto UP2B

2021
ritabarros@fpce.up.pt
PhD em Educação. Investigadora integrada da RECI (Research Unit In Education and Community Intervention) e membro colaborador do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto).

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Crescer para Ser: a proposta do projeto UP2B

A escolha de uma profissão resulta de um processo desafiante no qual os jovens se envolvem, muitas vezes orientados pelos psicólogos escolares, no âmbito do trabalho de orientação vocacional e profissional. Trata-se de um processo exigente, pois implica exploração e compromisso, muito à semelhança do que se passa noutras dinâmicas de construção identitária, típicas da adolescência. Não sendo, por isso, uma situação nova, a escolha de uma profissão requer, ainda assim, uma atualização por parte dos psicólogos escolares relativamente à emergência de novas profissões e à mutabilidade e incerteza do atual mercado de trabalho. Mesmo que a escolha definitiva de uma profissão seja projetada para o início da idade adulta, a verdade é que os alunos do 3º ciclo do Ensino Básico (sobretudo estes) se deparam com escolhas em termos de áreas de educação e formação ou de disciplinas opcionais, colocando-os face a interrogações cujas repostas não parecem ser líquidas e imediatas. Não será então de estranhar que alunos do 3º ciclo, na faixa etária entre os 12 e os 16 anos, se questionarem acerca da utilidade de disciplinas que integram o seu currículo escolar. São exemplo questões como estas: “Se eu quero tirar um curso de artes, para que é que preciso de matemática? Se eu quero ser engenheiro, que falta me faz a filosofia? Para que me servem as disciplinas de história ou geografia, se eu quero mesmo é ser chef de cozinha?”. Estas questões, no seu conjunto, são o prenúncio do pressuposto da instrumentalidade absoluta, que se agudiza naqueles alunos que, mais tarde, têm oportunidade de frequentar o Ensino Superior e que se traduz na questão: Para que serve esta unidade curricular para o exercício daquela determinada profissão. A lógica subjacente é a de que tudo que se aprende, neste caso em contexto formal, tem que servir para alguma coisa no imediato. Portanto, para além da já referida instrumentalidade, o imediatismo é outro ponto sensível no que diz respeito à educação das novas gerações. De facto, o foco nas aprendizagens de carácter mais técnico colide com aquilo que as empresas e outras organizações empregadoras procuram nos seus trabalhadores: competências transversais, já amplamente exploradas por diversos autores (Fullan & Scott, 2014; Fullan & Langworthy, 2013). Denominadas de competências para o século XXI, são elas o carácter, a cidadania, a colaboração e trabalho em equipa, a comunicação, o pensamento crítico e de resolução de problemas e a criatividade e imaginação. Será caso para pensar não apenas no que se aprende (conteúdos), mas como se aprende (processos e práticas pedagógicas). Por isso, seria interessante voltar às questões colocadas pelos jovens e tentar equacionar possíveis respostas que lhes permitam compreender o papel (por vezes menos evidente) de uma determinada disciplina na sua formação e o seu impacto em termos de exercício profissional futuro. Foi esta preocupação que esteve na origem do projecto UP2B - Boosting Up School Education towards European Citizenship and Labour Market Inclusion (https://up2b.eu/), uma parceria estratégica na área da educação escolar, no âmbito do Erasmus + (Reference: 2019-1-PT01-KA201-061346), que integra universidades, empresas, associações e organizações não governamentais, autoridades locais de educação e escolas de 6 países europeus de diferentes latitudes e longitudes (Portugal, Espanha, Turquia, Bulgária, Dinamarca e Letónia). O CIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (https://www.fpce.up.pt/ciie/) integra esta parceira, coordenada pela APLOAD Lda (https://www.apload.pt/).

 

São objetivos do projeto:

-Aumentar a atratividade da escola, diminuindo as taxas de desmotivação e ausência e as taxas de abandono escolar precoce;

-Facilitar a relação e a transição entre a Escola e o Mercado de Trabalho;

-Aumentar o sentido de cidadania dos estudantes através da sensibilização para o mercado de trabalho;

-Adaptar o sentido de Cidadania Europeia e os seus valores fundamentais de equidade, nomeadamente em matéria de Género, Minorias e Direitos Humanos, como aspetos educativos fundamentais;

 

O alcançar destes objetivos torna imprescindível o envolvimento dos estudantes. Para isso, os professores são agentes cruciais, pelo seu papel direto na sensibilização e na promoção da tomada de consciência dos alunos enquanto cidadãos. No entanto, é exigida a participação de toda a comunidade escolar, incluindo os órgãos de gestão, os pais, as comunidades locais nas quais a Escola está inserida, sem esquecer as instituições formativas de Ensino Profissional e de Ensino Superior. Por último, esta rede facilitadora de sinergias para o desenvolvimento de carreiras tem necessariamente que incluir os empregadores, as agências de empregos e os conselheiros de carreira.

 

O trabalho desenvolvido neste projeto está focado na construção de produtos específicos, apelativos na conceção, no conteúdo e na utilização. Estes produtos pretendem funcionar como catalisadores motivacionais, sobretudo de alunos e professores, e concretizam-se em diferentes formatos. A disponibilização de uma plataforma online será operacionalizada numa comunidade de prática que articula Escola e Profissão e num repositório de ferramentas e práticas pedagógicas que auxiliam os professores na implementação do projeto. Paralelamente, o 'School & Job Matching Handbook' é outro dos produtos de suporte previstos. Por último, o compêndio de actividades pedagógicas 'Boost Up your Class - Citizenship & Job - Pills Activities' e um pacote de actividades pedagógicas online 'Boost Up your Class - Citizenship & Job - e-Pills Activities', apresentam-se como recursos educativos transversais, que permitem a valorização de cada uma das disciplinas do currículo escolar e permitem aos alunos a compreensão do contributo de uma determinada disciplina para o exercício de uma profissão da sua preferência, mesmo que esse contributo não seja tão evidente à primeira vista. Todas as atividades foram concebidas tendo em vista a promoção dos valores humanos, em termos de equidade de género, igualdade de oportunidades combate ao bullying, proteção ambiental e direitos humanos, entre outros.

Embora o projeto esteja ainda em desenvolvimento, os resultados e os produtos, até ao momento construídos, mostram-se promissores no que concerne aos objetivos definidos.

O UP2B é mais um exemplo de como a implementação deste tipo de projetos nas Escolas permite torná-las mais criativas na resolução dos seus próprios problemas, como é o caso da falta de interesse e envolvimento dos alunos e, por outro lado, facilita o cumprimento da sua missão, no que diz respeito ao fomento de uma educação holística, de pendor humanista, sem se deixar manipular por tendências mercantilistas, focadas na hiperespecialização profissional. Quando se trata de jovens entre os 12 e os 16 anos, parece ser este o caminho para a preparação da sua vida futura enquanto trabalhadores e, sobretudo, enquanto cidadãos ativos.

 

Referências:

Fullan, Michael & Scott, Geoff (2014). New Pedagogies for Deep Learning Whitepaper: Education PLUS. Washington: Collaborative Impact SPC. https://michaelfullan.ca/education-plus/

Fullan, Michael & Langworthy, Maria (2013) Towards a New End: New Pedagogies for Deep Learning. http://www.newpedagogies.nl/images/towards_a_new_end.pdf

 

Rita Barros

Rita Barros é Professora Coordenadora do Instituto Piaget, sendo responsável pelas unidades curriculares da área científica da Psicologia. É Licenciada e Mestre em Psicologia (especialização em Psicologia e Saúde) pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Porto. Possui Diploma de Estudos Avançados em Desenvolvimento Pessoal e Intervenção Social pelo Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade de Valência. É Doutorada em Ciências da Educação pela Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Santiago de Compostela. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos, com larga experiência profissional como psicóloga, quer em contexto hospitalar e de clínica privada, quer ao nível da intervenção comunitária. É investigadora integrada da RECI (Research Unit In Education and Community Intervention) e membro colaborador do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto).

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