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Como tornar os jovens Cidadãos Digitais? Contributos do Projeto MINDtheGaps

2020
ritabarros@fpce.up.pt
PhD em Educação. Investigadora integrada da RECI (Research Unit In Education and Community Intervention) e membro colaborador do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto).

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Como tornar os jovens Cidadãos Digitais? Contributos do Projeto MINDtheGaps

Os atuais contextos sociais em que se desenvolvem os jovens diferem substancialmente daqueles que moldaram as gerações anteriores e para esse diferencial contribui muito significativamente a utilização das tecnologias digitais e das redes sociais online. A cultura juvenil, não dispensando a atividade online, enfrenta grandes desafios. A tecnologia e os media digitais proporcionam aos jovens novas experiências, o acesso a múltiplos contextos, aos quais acedem com um simples clique, e a exploração de identidades, uma questão tão central quando nos reportamos aos processos desenvolvimentais da adolescência. É neste âmbito que surge o conceito de Cidadania Digital, um foco de interesse para os jovens e menos jovens, quer pelas potencialidades que o acesso à internet proporciona, quer pelas limitações, riscos e perigos a ele associados.

A multidimensionalidade do conceito de Cidadania Digital, por um lado, remete para temas como o acesso, etiqueta, saúde e segurança digital, ou para regulamentos e leis, competências digitais e de comunicação, economia e consumo digital, ética, direitos e responsabilidades. Por outro lado, inclui competências cognitivas (como sejam a autonomia, o pensamento crítico, a capacidade de tomada de decisão ou as competências comunicacionais), competências emocionais (como a valorização da dignidade humana, a tolerância a consciência comunitária e o cuidado com os outros) e competências comportamentais, que se refletem na participação ativa da vida comunitária, na regulação autónoma do comportamento e no cumprimento às leis e regulamentos socialmente partilhados (Kim & Choi, 2018).

Abordagens mais normativas são preconizada por organismos como a International Society for Technology in Education (ISTE, 2016), a qual destaca as competências tecnológicas e o uso responsável da internet, assim como o cumprimento dos pressupostos legais e de segurança (por exemplo, a prevenção do cyberbulling) e dos princípios éticos (como o respeito e a tolerância com os outros nos ambientes virtuais). Outras tendem a enfatizar o papel das atividades online na promoção de formas alternativas de participação social e política dos jovens e no seu envolvimento cívico enquanto cidadãos digitais promotores da justiça social (Council of Europe, 2017; Emejulu & McGregor, 2019; Gazi, 2016; Heath, 2018; Mitchell, 2016).

Posto isto, a questão que se coloca é: Como educar os jovens para a Cidadania Digital?

Um dos projetos financiados pela União Europeia e pelo Fundo Social Europeu tem o sugestivo título: MINDtheGaps - Media literacy towards youth social inclusion (Ref: 2019-2-PT02-KA205-006226). Coordenado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, este projeto tem como parceiro em Portugal a APLOAD, uma empresa de serviços e consultoria nas áreas da Arquitetura Paisagista e Avaliação e Planeamento Social da Maia, e envolve ainda parceiros da Turquia, Noruega e Bulgária. Iniciado a 1 de janeiro de 2020, tem data prevista de términus a 31 de dezembro de 2021, e apresenta como um dos seus objetivos gerais promover o uso efetivo das ferramentas digitais existentes para promover a educação para a cidadania, no contexto das abordagens inovadoras educacionais inclusivas relacionadas com a literacia mediática. A figura abaixo esquematiza a relação entre os conceitos-chave do projeto, com destaque para a Cidadania Digital

 

 

Os psicólogos interessados nas questões da Cidadania Digital poderão acompanhar o desenvolvimento do projeto através da informação disponível em http://digitaliteracy.eu/mindthegaps/ e https://www.instagram.com/mindthegapsproject/ e incentivar à participação do jovens entre os 15 e os 18 anos a participar nas atividades práticas previstas.

 

Referências:

Council of Europe (2017). Digital citizenship education. Overview and new perspectives digital citizenship education overview and new perspectives. Retrieved from https://rm.coe.int/prems-187117-gbr-2511-digital-citizenship-literature-review-8432-web-1/168077bc6a

Emejulu, A. & McGregor, C. (2019). Towards a radical digital citizenship in digital education. Critical studies in Education, 60(1), 131–147. Retrieved from https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17508487.2016.1234494?scroll=top&needAccess=true

Gazi, Z. A. (2016). Internalization of Digital Citizenship for the Future of All Levels of Education. Education and Science, 41(186), 137-148. DOI: 10.15390/EB.2016.4533

Heath, M. K. (2018). What kind of (digital) citizen? A between-studies analysis of research and teaching for democracy. The International Journal of Information and Learning Technology, 35(5), 342-356. DOI: 10.1108/IJILT-06-2018-0067

International Society for Technology in Education (ISTE). (2016). ISTE standards students. Retrieved from http://www.iste.org/docs/pdfs/20-14_ISTE_Standards-S_PDF.pdf

Kim, M., & Choi, D. (2018). Development of Youth Digital Citizenship Scale and Implication for Educational Setting. Educational Technology & Society, 21(1), 155–171. Retrieved from https://pdfs.semanticscholar.org/cd87/7a32270fe941bba0cfdbd3d04858f4e3d050.pdf?_ga=2.136203317.580806629.1600857552-1158885880.1584292135

Mitchell, L. (2016). Beyond Digital Citizenship. Middle Grades Review, 1(3), Article 3. Retrieved from http://scholarworks.uvm.edu/mgreview/vol1/iss3/3

 

Rita Barros

Rita Barros é Professora Coordenadora do Instituto Piaget, sendo responsável pelas unidades curriculares da área científica da Psicologia. É Licenciada e Mestre em Psicologia (especialização em Psicologia e Saúde) pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Porto. Possui Diploma de Estudos Avançados em Desenvolvimento Pessoal e Intervenção Social pelo Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade de Valência. É Doutorada em Ciências da Educação pela Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Santiago de Compostela. É Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos, com larga experiência profissional como psicóloga, quer em contexto hospitalar e de clínica privada, quer ao nível da intervenção comunitária. É investigadora integrada da RECI (Research Unit In Education and Community Intervention) e membro colaborador do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto).

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