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Palavras chave para a crise actual: aceitação, adaptação, resiliência

2020
joana_s.j_rodrigues@hotmail.com
Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicoterapeuta
Publicado no Psicologia.pt a: 2020-04-26

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Palavras chave para a crise actual: aceitação, adaptação, resiliência

Este momento crítico afecta-nos psicologicamente a todos, ninguém está imune. Afecta-nos de maneiras diferentes, não só pelas nossas funções (pessoas que trabalham cada dia têm preocupações e cuidados diferentes comparativamente aos que ficam todo o dia em casa, não menos nem mais fáceis, naturalmente diferentes), idades (crianças, jovens, adultos e idosos), condição profissional, etc. Apesar de haver preocupações mais específicas para cada grupo, existem questões transversais que nos podem facilitar ou dificultar em lidar com este momento totalmente novo.

Sabemos que algo que seja totalmente novo e inesperado, activa-nos, mas a forma como lidamos com essa activação vai fazer toda a diferença. E vai fazer a diferença no momento presente, mas também no nosso futuro, pós-pandemia. O Ser Humano tem a necessidade de segurança, e o controlo dá uma sensação de maior segurança. Se eu organizo os meus dias, as minhas rotinas, as minhas férias e dou pouco espaço ao imprevisto ou à espontaneidade, mais difícil é lidar com acontecimentos que estão fora do meu controlo. Sabemos que existem pessoas com maior necessidade de controlo e outras menos. Mas algo essencial numa situação como a que estamos a passar actualmente é ACEITAR. Aceitar o que está ao meu alcance e o que não está, aceitar que há incertezas sem respostas e procurar um estado da maior tranquilidade possível dentro dessa aceitação. O saber quando isto vai passar, o saber que nada nos vai acontecer... daria a todos nós um conforto e uma tranquilidade que neste momento não é possível. Então se não podemos saber, nem podemos controlar tantas coisas, como é ACEITAR que não temos esse controlo? Ninguém controla o mundo...

Então como seria focarmo-nos no que está ao nosso alcance? Como seria focarmo-nos no que podemos fazer cada dia? Como é aceitar que apesar de ser difícil, e ter medo de ser infectado, faço tudo o que posso para me proteger? E agarro no que posso fazer, nesse controlo que posso ter, para me conseguir sentir um pouco mais tranquilo! Como é aceitar que apesar de estarmos pelos cabelos de estar em casa, sabemos que temos a possibilidade de decidir o que fazer, dentro de 4 paredes, mas para nosso bem! Como é aceitar as coisas que não podemos mudar, tal como elas são? Se por um lado há a palava ACEITAÇÃO, pelo outro lado existe a RESISTÊNCIA. A resistência é o que nos agarra ao passado, aos dias que tínhamos antes e que queríamos ter agora, às certezas que tínhamos, aos planos, às rotinas conhecidas, às férias agendadas, à segurança que achávamos ter, ao conhecido. A RESISTÊNCIA é uma negação à necessidade de fazermos diferente, porque sabemos que é difícil, porque não sabemos como vai ser... Então resistimos! Não queremos! E queixamo-nos, e criticamos tudo e choramos e ficamos ali, naquele lugar pesado, onde só nos movemos quase arrastados, porque tem que ser. Lugar muito pesado esse, que apenas nos faz sentir desesperados, angustiados e perdidos.

A ACEITAÇÃO, apesar de não nos tirar o medo nem a preocupação, permite-nos procurar alternativas, permite-nos avançar adaptando-nos a uma situação nova e exigente. A capacidade de nos adaptarmos adequadamente a mudanças e situações inesperadas ajuda-nos a gerir a angústia e a incerteza. E é a essa capacidade de nos adaptarmos que chamamos de resiliência. E tomar medidas para desenvolvermos a resiliência é essencial, adoptá-las pode melhorar de uma forma geral o nosso bem-estar físico e emocional.

 

Para Promover a Resiliência…

- Faça uma pausa das notícias - veja apenas o mínimo necessário, no site da DGS, OMS ou OPP.

- Aceite em agarrar o controlo das coisas que tem e não queira controlar o que não pode. Cuide de si e de quem está ao seu lado, alimente-se bem e hidrate-se.

- Aceite os seus medos e as suas emoções, exteriorize de uma forma saudável

- Não se isole, estamos todos no mesmo barco, fale com os seus amigos, colegas, familiares.

- Procure relaxar sempre que possível, com tarefas agradáveis de lazer, relaxamento ou actividade física.

 

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Joana de São João Rodrigues

Joana de São João Rodrigues é Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos e especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Possui licenciatura e mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. É Pós-Graduada em Educação Social e Intervenção Comunitária e Membro Associado da Associação Portuguesa de Terapias Comportamental e Cognitiva. É Formadora Certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua. Desenvolveu actividade clínica de apoio a doentes com doença oncológica e seus familiares no Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil do Centro Regional de Oncologia de Lisboa, no Serviço da Clínica da Dor. Deu apoio psicológico às famílias e crianças com cardiopatias congénitas internadas no Hospital Vall d'Hebron para cirurgia através da Associació d'ajuda als Afectats de Cardiopaties Infantils de Catalunya (Associação de ajuda aos Afectados por Cardiopatias Infantis da Catalunha), em Barcelona. Desenvolveu actividade de apoio às necessidades das mulheres vítimas de violência doméstica/abuso sexual, pela Associação de Mulheres Contra a Violência, em Lisboa. Esteve integrada em diversos projectos de Cooperação Internacional, onde deu formação na área da promoção da saúde em Angola e Guiné-Bissau e foi técnica de cuidados continuados integrados de saúde mental na Associação para o Estudo e Integração Psicossocial, em Lisboa. Desde 2011 exerce clínica privada com jovens, adultos e seniores e desde Março de 2016 que integra a Equipa da ClaraMente - Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia, com o objectivo de promover a saúde mental e a qualidade de vida, disponibilizando serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia em consultório em Lisboa e Caldas da Rainha. Desde Abril de 2019 que trabalha no Hospital Lusíadas em Lisboa, nas Unidades de Tratamento de Dor e Oncologia.

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