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Como sobreviver ao isolamento social neste momento de pandemia?

2020
andradesofia958@gmail.com
Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. Formadora certificada pelo IEFP
Publicado no Psicologia.pt a: 2020-04-21

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Como sobreviver ao isolamento social neste momento de pandemia?

Somos por natureza seres sociais que necessitam de constante contato com os outros, porque vivemos em sociedade. Embora esse contato seja difícil para algumas pessoas, por inúmeras questões como a timidez, a ansiedade, a depressão, a fobia social, ele é necessário para a nossa saúde, quer física quer psicológica. Os relacionamentos interpessoais que cultivamos influenciam diretamente a nossa personalidade, como as opiniões e o nosso humor. Quando o isolamento ocorre, essa troca deixa de acontecer e a pessoa isolada fecha-se na sua mente.

Mantermo-nos serenos num vendaval de informações e emoções que envolvem a pandemia do novo coronavírus ou covid19, está a ser um desafio intenso para a humanidade. Ficar isolado do convívio social por um prazo indeterminado, enquanto as informações chegam como uma avalanche, através de uma tela de televisão, ou das novas tecnologias, para a maioria das pessoas não é fácil, digamos que está a mexer com as emoções e com o aspeto psicológico dos indivíduos.

As consequências imediatas desta situação, independentemente de contrair ou não o novo coronavírus, está a gerar o pânico e o medo, dificultando a racionalidade. Neste momento a maioria dos indivíduos já se está a consciencializar da realidade, em que o medo e o pânico se está a instalar na sociedade. Esta situação pode levar a consequências adversas, quer ao nível global, quer ao nível dos relacionamentos pessoais.

Este cenário atual pode ser, uma arma a disparar e a desencadear transtornos psicológicos graves. Por essas razões a síndrome do pânico e a depressão, será uma afeção mental que irá afetar muitas pessoas devido à realidade atual. A ideia de isolamento social causa transtornos psicológicos graves, mais ainda a incerteza de não se saber quando terminará, e se vamos ficar bem!

 As crises do medo, pânico, taquicardia, dor de barriga, calafrios, são sinais que o corpo manifesta face a dar resposta ao stresse, sendo muitos já os relatos vivenciais de pessoas com estes sintomas. Estas reações acontecem de forma recorrente e persistente para afetar o sujeito de forma a que não venha a ter uma vida normal. Quando se começa a ouvir e a ver diariamente o problema que nos afeta, ficamos angustiados, os pensamentos não param, principalmente os negativos, e começa-se a entrar num estado de declínio, sem se conseguir controlar os sintomas.

Mas ao contrário, quando nos abstraímos de ver e ouvir o que nos faz mal, através dos meios de comunicação social que nos chegam a casa diariamente, permite-nos sentir melhor, e canalizar as emoções em situações que nos fazem bem e ajudam a aliviar a tensão do momento, nomeadamente: ouvir uma música relaxante, fazer algum exercício físico, ou praticar a meditação e o mindfulness para controlar a ansiedade e promover o bem-estar geral.

A forma como cada individuo dá resposta a esta situação, está relacionada com a personalidade e o seu percurso de vida. Cada um tem o comportamento psicológico de acordo com a sua personalidade, sendo resultado da sua história de vida, experiências e meio envolvente. Existem sujeitos que expostos a situações desafiantes e confrontativas, o seu nível de fobia e pânico é de tal forma intenso, que chegam mesmo a experienciar sintomas físicos de doenças, como por exemplo: náuseas, vómitos, dificuldades em respirar, formigueiros nas extremidades entre outros.

Importa referir, mesmo que os sintomas não estejam relacionados com uma doença específica mais grave, o transtorno psicossomático evidencia-se naquele indivíduo. O pânico e o medo começam a tomar conta do sujeito, e sobrepõe-se à racionalidade. Em situações de setting profissional, muitos são os casos de pacientes relatarem nas suas histórias que chegaram mesmo a ter crises de desmaios, e taquicardia perante situações de pânico e ansiedade.

Para nos mantermos equilibrados, deve começar o dia com uma rotina diária e atividades que sinta prazer em fazer. Pode anotar numa folha de papel ou bloco, o que vai fazer diariamente de segunda a sexta-feira, e desenvolver atividades diárias, como ler, ouvir música escrever, arrumar a casa, o guarda-roupa, assistir a filmes que o deixem descontraído, se tiver crianças e adolescentes em casa pode desenvolver atividades lúdicas com eles e incentivá-los a partilharem tarefas de casa. O facto de interagirem todos juntos na partilha e troca de tarefas, ajuda bastante na ocupação do tempo e abstrair de situações menos positivas.

Como Psicóloga aconselho e faço um alerta para filtrarem as notícias, verem e ouvirem fontes de informação credíveis, hoje em dia tem-se vindo a constatar que existem muitas informações falsas, as chamadas fake-news que são incongruentes e nada servem para informar, mas antes pelo contrário, servem para criar alarmismos injustificados e criar o pânico entre a população. Se quer ter notícias seguras, pesquise fontes fidedignas, em jornais, revistas sérias, e redes sociais institucionais. Não se deixe influenciar por opiniões públicas sem fundo de informação credível e notícias de terceiros que por vezes não correspondem à realidade, tendo em conta que cada caso é um caso. As redes sociais são um excelente meio de ajuda e informação, porque nos põe em contato com o mundo, mas também temos que saber usá-las para não se tornarem perigosas, é preciso maturidade e bom senso para analisarmos as situações de forma coerente e consciente.

Em tempos de isolamento social, podemos recorrer à terapia virtual, como sendo um instrumento online necessário, para quem faz psicoterapia, e não quer nem pode prescindir do aconselhamento psicológico, nesta situação critica em que vivemos.  A terapia virtual é uma forma de não interromper esse suporte essencial. Apesar de ser algo novo, já se aplica este modelo de atendimento para profissionais com interesse nesse serviço, tendo em conta o procedimento clínico sobre o sigilo profissional, como prática do código ético e deontológico dos psicólogos, bem como o setting profissional adequado à prática desta terapia online.

Para concluir, parece que estamos perante um momento de reflexão, que nos leva ao autoconceito, e ao autoconhecimento, num refúgio constante de introspeção na vida. Como seres humanos temos a capacidade de nos adaptar às circunstâncias do momento, cujas situações adversas nos põem à prova, principalmente quando estamos entre quatro paredes, num isolamento social tao profundo e assustador, mas ao mesmo tempo, nos faz refletir e nos capacitar de resiliência.

Esta pandemia que nos permite estar confinados em meio social, demostra que é preciso, parar e apreciar os pequenos momentos da vida, dando oportunidade de nos conhecermos e tornarmo-nos na pessoa que somos. Como já dizia Carl Rogers: “A pessoa torna-se no que é, como o paciente diz com tanta frequência durante a terapia”. O que isto parece querer indicar é que o indivíduo se torna na sua consciência aquilo que é, na experiência. O indivíduo é, por outras palavras, um organismo humano completo e em pleno funcionamento.

Nesta fase da vida em que nos encontramos, penso que com toda a convicção, vamos em “busca de nós mesmos”, como já dizia a autora do Livro: DIBS, dar valor simbólico a pequenas situações da vida e descobrir a criança escondida em nós, como condição humana essencial e que nos faz feliz!

Acredito nesta máxima: “Juntos seremos mais fortes e vai ficar tudo bem”!!

Sofia Andrade

Sofia Alexandra de Jesus Andrade é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e de Aconselhamento. É Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e Membro Associado do MDM. É também membro de uma IPSS em Lisboa. É licenciada em Psicologia e Mestre em Psicologia Clínica e de Aconselhamento pela Universidade Autónoma de Lisboa, tendo realizado um mestrado via profissionalizante na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens do Seixal, onde adquiriu competências pessoais e sociais com crianças e jovens em risco, onde atualmente trabalha. Realizou também um estágio de Licenciatura no Gabinete de Saúde Ocupacional da Câmara Municipal do Seixal, tendo desenvolvido um estudo sobre o levantamento do Absentismo Prolongado dos trabalhadores, bem como consultas de desabituação tabágica. Para além de ser formadora certificada pelo IEFP, e apoiar várias causas sociais, é participante ativa em causas voluntárias. Atualmente dedica-se também à escrita sendo autora do livro intitulado: “Crianças e Jovens em Perigo. Estudo de Casos Clínicos. 2.ª edição”, pelas Edições Vieira da Silva.

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